Pedaço de Papel
"As aparências enganam."
quarta-feira, 6 de junho de 2012
A dignidade.
Quando uma tragédia se abate sobre nós, quer dizer, quando nos atinge em cheio, é o fim do mundo. É como se fôssemos atirados no oceano durante uma tempestade. A água nos joga de um lado para o outro, e não há nada que possamos fazer a não ser tentar não afundar. Parte de nós, talvez a maior parte, não quer nem ao menos manter a cabeça fora d'água. Quer parar de lutar e se deixar levar pelo mar. Mas não conseguimos fazer isso. O instinto de sobrevivência não o permite. Não sei. Mas de qualquer maneira, querendo ou não, lutamos para ficar na superfície. Podemos tentar caminhar e superar a dor. Podemos tentar esquecer e seguir adiante com nossa vida. Mas é indigno.
Flutuando.
É tudo muito rápido, muito vasto. Em fração de segundos aquela pessoa que tanto admirávamos se torna uma desgraça humana sem igual. Mas não há tempo a perder. Os olhos, assim como as lentes das câmeras, focam naquilo que a configuração quiser. Pode ser irreal, mas não anormal. São nas encruzilhadas da vida que nos forçamos a escolher caminhos que nem sempre é a melhor escolha. Bem, já dizia o poeta que havia uma pedra no caminho. Mas, tô falando daquela pessoa. É, a pedra. A confiança desaba, o carinho se acaba e o que se permite sentir é o calor da distância. O que tenho ouvido é que o perdão é o melhor modo de restaurar os defeitos do caminho. É verdade. Mas pensando bem... não é o que se faz.
A terceira dimensão.
Pensei no jeito como seus olhos verdes me penetraram. Pensei na textura sedosa dos seus cabelos. Pensei em como aquela atração física inicial - que era imensa, aterradora - havia se espalhado por todos os cantos do meu ser. Pensava nela o tempo todo. Sentia um friozinho no estômago. Meu coração começava a dançar cada vez que meus olhos pousavam em seu rosto. Às vezes ela me perguntava o que eu estava pensando porque minha cabeça estava longe, tinha voado para aquele lugar que eu costumava chamar, de brincadeira, de "A Terra Prometida", e eu então teria um sorriso vadio estampado em meu rosto. Sentia-me extasiado. Era uma sensação aconchegante que se transformava rapidamente numa excitação selvagem, até que... bem, é por isso que os aparelhos têm um botão de pausa.
terça-feira, 5 de junho de 2012
A decepção.
Eu já havia amado alguém e perdido esse amor antes. Quando se trata de assuntos do coração, confesso que tenho um modo de pensar meio descarado. Acredito na metade da laranja. Todos nós temos um primeiro amor. Quando o meu me abandonou, deixou um buraco bem no meio do meu coração. Por muito tempo pensei que jamais fosse conseguir me recuperar. Havia motivos para isso. Para começar, nosso rompimento parecia incompleto. Mas não importa. Depois que ela me abandonou - sim, porque foi exatamente isso que ela fez -, convenci a mim mesmo de que estava fadado a me conformar com alguém... inferior... ou ficar sozinho para sempre. Então encontrei o amor.
Quem somos.
A verdade é que nós não passamos de animais, ou até mesmo de meros organismos, apenas ligeiramente mais complexos do que um vírus. A gente morre e tudo acaba. Era pura loucura pensar que nós, humanos, estamos de alguma forma acima da morte, que nós, ao contrário de qualquer outra criatura, temos a habilidade de passar por cima dela. Em vida, é claro, somos a espécie dominante porque somos os mais fortes e os mais impiedosos. Nós mandamos. Mas na morte, acreditar que somos de alguma forma especiais, que podemos alcançar o favor de Deus se o bajularmos, bem, não quero parecer comunista, mas esse é o tipo de raciocínio que os ricos vêm usando para fazer dos pobres sua cria desde ps primórdios da história. No jogo da vida cada um obtém vantagem como pode. Ando frequentando caminhos que os outros considerariam tabus. Caminhos que não me levarão a lugar algum.
A dor.
A vida é uma batalha direta contra a dor. A dor imobiliza, se espalha. Arranca o ar dos pulmões. É uma devastação. Existe uma ligação entre o consolo e a dor auto-penalizada, a tentação de abraçar a dor porque o sofrimento é a preferência diante do esquecimento. A realidade dos sonhos fica embaçada. A fadiga se faz presente. Mas estou falando da dor. Aquela que se tenta bloquear. Não adianta. Por fim, uma clareza. A única solução: abandonar a sanidade.
Um Julgamento.
Muitas vezes na vida somos obrigados a fazer julgamentos que não gostaríamos de fazer. E queremos que eles sejam fáceis. Queremos confinar as pessoas em categorias bem definidas, anjos ou monstros, mas quase sempre o buraco é mais embaixo: a verdade está em algum lugar entre os dois extremos. E esse é o problema. Os extremos são bem mais fáceis. Mas por mais que essa atitude esteja em nosso instinto, não devemos criar julgamentos desnecessários, até que se prove o contrário.
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